terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"Que linda é a noiva... lai, lai, lai, lai..."

O casamento é em geral um contracto que por vezes não faz muito sentido, mas no Japão o casamento é acima de tudo um negócio, e um negócio excelente... excepto para os que se casam!
Começamos pelo fim, apresentando o que a meu ver é deprimente, acabando no que considero simplesmente aberrante. Na vida de um casal Japonês, são a mulher e a sogra que gerem a casa, a bem dizer, quem veste as calças. Isso não quer dizer que sejam elas a trabalhar, antes pelo contrário, eles trabalham e elas gastam a massa! Os tipos têm normalmente direito a uma semanada, que dá normalmente para os almoços da semana e, se forem poupadinhos, para um copo à Sexta-Feira. É recorrente, o dinheiro dos prémios anuais ser pago directamente ao empregado, e este ter uma conta bancária secreta onde guarda esse dinheiro para alguma eventualidade ou para uma extravagância... ou só para apanhar um táxi se perder o último comboio depois de mais um dia refugiado da mulher no escritório. Em suma, os tipos depois de casar, têm de pedir o dinheiro que ganham às mulheres para comprar uma camisa, ou uma gravata, enquanto as tipas calcorreiam a Omotesando em busca do último grito da Channel, Gucci, Yve Saint Lourent e marcas que tais. Uma coisa é certa, eles vêm onde está o dinheiro, elas ventem-no, quase literalmente!
Andando um pouco para trás, o casamento em si é outra anedota aos nossos olhos. Cada convidado têm obrigatóriamente de dar por volta de 30.000JPY em número de notas impáres novas, cerca de 250EUR, tendo igualmente de pagar a sua refeição ligeira, cerca de 10.000JPY, uns 80EUR por convidado. Se duas pessoas e um filho, forem ao casamento de um amigo, a coisa pode facilmente chegar aos 1000EUR, uma brindadeira de crianças. A cereja no topo do bolo é que os noivos não usam o dinheiro em seu proveito, para pagar a lua de mel ou ajudar ao pagamento das festa, que só por si é caríssima. Esse dinheiro é usado ao invés para comprar prendas aos convidados, isso mesmo, comprar prendas aos convidados. Normalmente em valor semelhante ao oferecido originalmente. Um convidado pode receber de volta uma travessa de louça rara, um par de copos de cristal ou um chá mega-mega, daqueles que só se cultivam nas zonas remotas do Japão e são apanhados por virgens em noites de lua nova, como se ainda as houvesse, as virgens. Nós até gostamos de chá, mas para os que o chá só faz ferrugem, dar um presente num casamento é pura e simplesmente queimar dinheiro. Bem, nem tudo é mau, a economia beneficía. Talvez seja a razão que tantos procuravam porque o Japão está em crise há várias décadas mas ainda não estoirou como muitos outros mui conhecidos países prósperos.
Por fim, há o que considero o requinte de malvadez. Para tipos que escolhem e religião pela proximidade do templo, não é estranho alguns casais casarem pela Igreja Católica, que também é moda diga-se. O que é brilhante é a roupinha que envergam. Os noivos vestem tudo, desde os fatos tradicionais, passando pelo mais branco dos fatos, com óculos a condizer, hastes e lentes brancas também, até ao mais vermelho dos fatos que envergonharia um benfiquista orgulhoso com o seu fato de treino Domingueiro a condizer com os sapatos de verniz pretos... ah, com a meíta turca das raquetes cruzadas. Mas as noivas aqui são geniais. A da fotografia dispensa grandes palavras, excepto "O meu coração só tem uma cor, azul e branco!", largado ao vento pela noiva azul e banca no discurso comemorativo, ao que os convidados respondem com um "Que linda é a noiva... lai, lai, lai, lai... Que linda é a noiva...". Ah g'anda noiva!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"All Blacks"

O eterno equilibrio da vida reflecte-se em coisas tão simples como o equilibrio emocional entre amigos. Quando as vidas de uns acalmam, a vida dos outros tem forçosamente de andar ao rubro. Foi o que aconteceu há umas semanas, a nossa vida fluía para o marasmo e a de um casal amigo disparou em emotividade, assim, de um momento para o outro.
Estavam eles em casa num fim-de-semana como tantos outros quando ouviram bater a porta de casa. Pensando que era a empregada não se preocuparam até ao momento que ela não se fez apresentar como de costume. Chamaram, sem resposta. Mau! Foram à procura dela pela casa, quais detectives Varatojo, e depararam com alguém fechado na casade banho. Bateram e alguém respondeu no que aparentava ser Japonês. Estava claro que alguém entrara em casa e, sorte das sortes, se instalara na sua casa de banho.
Tentam empurrar a porta para a abrir, deperando-se com resistência do outro lado, acompanhado de uma verborreia intelegível. Quando finalmente conseguem abrir a porta, deparam-se com um tipo enorme em cuecas no meio da casa de banho: "What the hell are you doing in our place? - perguntou o chefe de família, tendo como resposta um "This is my place! Where are my clothes?". Já o nosso amigo tinha ligadopara o "consierge" e aparecido o tipo da manutenção (maus entididos do Japão, ninguém percebe à primeira), enquanto a novela rolava. Após mais algumas trocas de palavras acesas, perceberam que o tipo era ex-jogador dos All Blacks, a selecção nacional de rugby da Nova Zelândia, todos eles pequeninos. Tinha-se embebedado com os outros "novilhos" na Nova Zelândia, que tinham um jogo amigável com o Japão no mesmo dia, e tinha ido parar ao prédio destes nossos amigos por haver lá uma menina da vida que dava farras até amanhecer! Ao que parece tinha saído da casa da tipa para se aliviar e tinha entrado ainda num estado altamente alcoolizado na casa de banho deles... uma história simples.
Quando finalmente o conseguiram deslocar de casa para o hall de entrada do prédio, já vestido com um robe e rodeado de dez polícias do CSI Tóquio, lá se apurou onde estavam as roupas do "rapazito", Quando a dita menina apareceu com as coisas, ele disse apenas "Oh, my pants!", sim porque a tipa já ele tinha visto montes de vezes! O nosso amigo, já mais calmo, mandou embora os polícias e o ex-jogador jogador apanhou um taxi para o hotel, esperando tenha entrado no quarto certo.
No final podemos dizer sempre como bons Portugueses que podia ter sido pior, podiam ter irrompido pela casa todos os "All Blacks", imaginem, "todos os pretos"...


sábado, 7 de novembro de 2009

"White List Tokyo"

Mais uma festa de aniversário, a última antes da hibernação!
Quem passar por Tóquio este Sábado, fica o convite... o Hulk'zinho vai fazer o show dele!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"Oh coisinha fofa!"

Este post versa sobre os cães minúsculos que os Japoneses ostentam como se fossem jóias, my precious...
Se os cães pequenos irritam muita gente, os cães a pilhas irritam muito mais. A falta de espaço, denominador comum numa cidade como Tóquio, leva as pessoas a fazer algumas coisas muito parvas. Tratar no entanto cães ridiculamente pequenos como bébés, quando estes se assemelham mais a ratos, é passar dos limites. Não raras vezes se vêm pessoas a passear os cães em carrinhos de bébé, com touquinhas na cabeça e babygrow Prada não lhes vá dar o frio. Qualquer tipo impelido pelo instinto paternal que espreite distraídamente para dentro do carrinho, manda imediatamente um salto, libertando um: "Fónix, aquele bébé tem focinho!". Dito isto, a coisa piora e toma contornos de esquizofrenia colectiva.
No outro dia, perto de Aoyama, passei por uma pastelaria com um cheirinho que me fez salivar à primeira inalação. Estavam a sair bolos! Entrei e comecei o processo de escolha do bolo mais brutal, o maior e com aspecto mais doce; difícil, eram todos igualmente apetitosos! De repente vejo um casalinho entrar com um carrinho de bébé e atirar lá para dentro um bolinho tipo Donut com recheio vindo da montra, que o bébé recebeu com um "AU, AU, AU!", abanando a cauda. Era um chihuahua! Em pânico, olhei com atenção à volta e estremeci com o letreiro por cima da menina do balcão... "Dog Patisserie"... "huuuuuuh", e saí a correr, estava prestes a comer um biscoito de cão!
O que dizer então de empresas que organizam a vida social dos cachorros? Slogan: "Save the dog", brilhante! A aparente especialidade destas empresas é tratar das festinhas da socialite canina, o jet set do reino animal. Já estou a ver um cocktail com sujeitos peludos, de orelhas grandes e olhar superior. Um comenta "Já experimentou o ossinho de codorniz? Está divinal!", ao que a cadelinha responde "Com efeito, já escavei inclusivamente um buraquito ali ao pé da piscina com alguns para mais logo!"... (risos), "Sua cachorra!".
Depois das descrições anteriores, encontrar flores em forma de caniche ou semelhante é o mesmo que comparar o fogo de artifício de final de ano da Madeira com um foguete de feira, ou para os que andaram no Técnico e se lembram destas coisas, comparar o dito fogo com os foguetes do Carvalhosa... mítico!
Há no entanto episódios que nos surpreendem sempre, mesmo quando pensamos que já vimos tudo. Atentai à figura do motoqueiro, um macho viril, olhar de poucos amigos, barba por fazer e um intenso cheiro a... estrada! Toda esta figura de proeminente rebelde culmina no porte de uma malita ao ombro com um canito lá dentro, que nem sequer trabalha a pilhas convencionais, leva daquelas pilhas de relógio de pulso, das mais pequenas, tal não é o tamanho da criatura... ah, e a cereja no topo do bolo é o capacete pequenino Harley Davidson do cão, a condizer com o do dono, tal Yin e Yen, Bela e Monstro ou Modelo e Detective... medo, mas inseparáveis! Está claro, depois desta descrição, que eu adoro estes cãezinhos. Quando vejo um faço-lhes sempre "Oh coisinha fofa!"... toma!


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sumo

Fomos ao Tokyo Kokugikan ver o famoso torneio de Sumo de Setembro. Para os fans de Sumo como eu, não é estranho venerar criaturas cujo maior atributo aparente é ser gordo, usar cuecas de fio dental tamanho XXXXXXXXL e armar confusão com os outros gordos que se lhes cruzam pelo caminho.
Também não é estranha para os fans toda a cerimónia da pancadaria. Desafiam-se como gatos ciosos com as suas cuecas preferidas, olhando-se, agachando-se, ganhando confiança com os vivas dos magricelas da audiência que os encorajam a sovar o outro gordo: "Dá-lhe, que esse gordo merece!"... "Tu não és gordo, és forte... dá-lheeeee!", e avançam destemidos contra a banha um do outro, agarrando-se, puxando-se e escorregando nos suores mútuos sem qualquer pudor. No final pretendem uma única coisa, que o outro gordo abandone o círculo de luta até que venha o próximo casalinho de gordos para dançar novamente a lambada.

Se falassem antes e durante o combate, imagino que o diálogo fosse algo do género:
- Oh gorda, estás toda boa (risos)... para não dizer o contrário!
- "So desu ne", ao menos não ando com cuecas com o número abaixo para parecer mais magra! Badalhoca! Oferecida! Vê-se o cú todo...
- Olha a ordinária! Deves pensar que são todas como tu!
- Vou-te arrancar esse piriquilho fatela que tens nessa cabeça de banha e ensinar-te boas maneiras, sua cabra! - responde movimentando-se com "agilidade" em direção ao pote do sal no canto do recinto de luta.
- Uuuuu - ouve-se com a investida.
- Eh pá, deslarga-me! Cheiras mal... bahh, tás toda suada, que nojo!
- Aaaaiii, larga-me as cuecas... porca!
- Eh pá, tu levas uma chapada... toma! Abanaste toda (risos), e ainda não paraste, pote de banha...
- Huuu... sai daqui!
- Aiiiiiiii...
E lá se precipita um deles para o chão. É assim que eles se divertem, os gorduchos do Japão... e nós aplaudimos.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"By the book"

Se há uma coisa que se faz bem no Japão é cumprir regras, tudo é feito by the book. Excepção feita quando bebem uns copos, mas ainda assim, há regras que ditam as regras para beber copos.
As regras são portanto para cumprir, mesmo que não façam sentido nenhum. Vou reportar um caso marcante, o dos maquinistas do metro e comboio.

Estes digníssimos cidadãos, cujo trabalho nem sempre é valorizado como devia ser, além de levarem milhões aos seus destinos, coitados, também falam sozinhos durante toda a viagem, aparentemente dizendo que se certificaram a cada momento que tudo está a funcionar como deve ser. Manómetros, niveis, ar dos pneus (ok, não se aplica aos comboios) e espante-se, informando que vão... em frente, como se houvesse outra hipótese num veículo que circula sobre carris. Extraordinária capacidade de orientação, "Aqui neste bocadinho vou em frente!", excelente! Inovador seria "Neste troço de linha onde só posso seguir em frente, vou virar aqui à direita para comer uma bifana!". Mas todos fazem o mesmo, é inútil bater no vidro para os distrair, os tipos entram no modo de rotina e não param, é assim que ditam as regras. Não consigo imaginar 30 anos com um trabalho assim... nem um dia sequer!
Esta semana descobri no entanto algo de novo, um maquinista fêmea! Também informava periodicamente que ia seguir na única direcção possível, mas concentremo-nos no género do maquinista. Uma mulher que conduz um comboio com quinze carruagens, um considerável número de toneladas de aço com mais de um milhar de pessoas que se amontoam nas hora de ponta na Yamanote-sen, que é provavelmente a linha mais movimentada de Tóquio, tem de ser um "ganda macho". Em Portugal há mulheres taxistas, que são bastante machitas; mandam uns palavrões aos outros condutores e deixam crescer orgulhosamente a unha do dedo mindinho. Há também algumas condutoras de TIR; são altos machos, não usam cremes hidratantes, fazem o bigode com lânima, cospem no chão e ainda coçam o suposto tomatinho, ossos do ofício. Esta mocita do comboio nem imagino como será, um diabo à solta! Vejo-a fácilmente a abrir a janela da cabine e mandar piropos às gajas da plataforma "Oh boa! Fazia-te um vestidinho de cuspo...", dentro das regras, claro!

domingo, 4 de outubro de 2009

"Papá, tenho sono!"

Os Japoneses dormem à séria! Com esta frase forte começa um post que fala de sono, de descanso e de coisas parvas.
Há uma característica nos Japoneses que continua a intrigar os comuns mortais, aqueles que depois de acordar continuam... acordados! Toda a gente conhece o prazer de uma sesta, especialmente ao Domingo à tarde, quando toda a gente se encontra deprimida com o começo da semana que se avizinha. Os Espanhóis e afilhados hispânicos têm a siesta, os Japoneses têm simplesmente um botão para desligar. Aqueles que já desejaram desligar os putos, a ver se descansam um bocadinho, não estes, mas os pais, encontrariam no Japão a solução para todos os males. Infância, adolescência, maioridade e senioridade, todos à distancia de botão ON/OFF. Passo a explicar: em qualquer local, a qualquer hora, em qualquer posição, se há um minuto para dormir, "Bora lá!", imediatamente o pessoal fecha os olhos e já está... puff, desligado! No metro, numa sala de espera, no escritório, nos copos, deitado, de pé, literalmente de qualquer maneira.

Claro que esta feature opcional vem com um preço. Se por um lado o power nap retempera, um tipo que dorme nestas condições faz e só pode fazer figuras do pior. Entre as célebres cabeçadas, os chamados golos na pequena área, até à total perda de equilíbrio, vale tudo enquanto o corpo e a mente dormitam. No metro, encostar a cabecinha ao ombro do parceiro com dois metros, que também dorme é uma cena espectacular, tipo "Papá, tenho sono!"... "Anda cá! Agora deixa-me dormir também... chato pá!". Há alguns casos mais graves no entanto, quando a mistura de alcoól, cansaço e talvez, porque não, a vontade de "dar em cima da vizinha de banco" se juntam num cocktail explosivo. Ok, um gajo tombado pelo Deus Baco até pode ser divertido, mas quando os outros têm de se desviar da nossa rota... da nossa não, que eu não me meto nessas coisas, da rota deles, desses malandros que se metem nos copos, aí as coisas mudam de figura. Invadimos o espaço do vizinho, impondo de uma forma aparentemente inocente a nossa presença, tipo "Cu-cu!".
A coisa pode no entanto tomar proporções a atirar para o macabro. Dar com um tipo deitado no passeio de uma das ruas mais movimentadas de Tóquio, à noite, com óculos escuros, a segurar (ou segurado) a uma ficha eléctrica, bate aos pontos os prémios "priceless" Mastercard. Então vejamos:
- Fatinho Cali Klain: 19.000 Yenes
- Camisa Lã Costas: 11.000 Yenes
- Óculos Rai Banho: 10.000 Yenes
- 4 cervejas: 3.500 Yenes
- Dormir numa poça de mijo no passeio de uma rua de bares em Tóquio com óculos de Sol e um sorriso beatífico: PRICELESS!

Mas no meio de tantos milhões é possivel que haja pessoas que dormem normalmente, sem cabeçadas. Enfim, com esta converseta toda, já me está a dar o sono... ups... GOLO!!!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"Oi?"

Há coisas que se passam na nossa vida que não passam de sonhos, nunca as vivemos, mas acreditamos que passámos por elas. Há outras no entanto que passam dos sonhos à realidade, e quando finalmente acontecem, despertamos do aparente estado vegatativo... "Oi?

Estavamos no ano da graça de 2009, a Terra era habitada por seres estranhos e em Portugal reinava o outrora jovem político Sócrates. Em Hiro-o, Tóquio, um rapaz fala distraídamente ao telefone quando é interpelado por uma jovem Japonesa, igual a tantas outras. O rapaz diz-lhe desviando a cara do telefone "I'm on the phone!", ela queda-se, imóvel, esperando impaciente pelo final do telefonema. O rapaz é estrangeiro, perfeitamente integrado no ambiente da vibrante Tóquio e estuda com curiosidade a rapariga sem que ela note. O fim do telefonema precipita-se e enquanto desliga o telefone repara no ar de pânico da jovem. "Do you need help?", pergunta-lhe. Esta responde "Are you in a MBA?"... Oi?
Acordei! O rapaz sou eu, mas... que raio de desbloqueador de conversa! Ainda espantado com a pergunta respondi:
- "Não, não ando! Porquê?"
- "Ah, ando à procura de uma amiga que anda num MBA, e eu estou na feira do MBA..."
Aqui já a minha cabeça vagueava. A rapariga era realmente Japonesa. Baixinha, excessivamente magra, a atirar para o feio, com ar de quem precisava de um Total Make Over, e continuava a inquirir-me sobre... MBAs?
- "Pois, não, lamento!", respondi.
- "E não tens um amigo que esteja num MBA?"
Estava a começar a ficar ligeiramente irritado com o teor da conversa...
- "Não, não conheço ninguém que ande num MBA. Não te posso ajudar, portanto..."
Ignorando a minha tentativa de saída de cena, continuou...
- "Deve ser difícil, mas vou perguntar à mesma: posso dormir contigo esta noite?"
... Oi? Que diacho se passou entretanto? O que é que eu perdi entre a converseta dos MBAs e este convite descarado de cama? Devo ter feito uma cara extraordinária, gostava de me ter visto, mas mantendo o ar das grandes ocasiões respondi:
- "Eh pá, não vai dar, sou casado e sinceramente acho que esta conversa não faz sentido nenhum!"
- "Ah, és casado... e não tens mesmo nenhum amigo que ande num MBA?"
... Oi? Voltámos à cena dos MBAs?
- "Não, não tenho amigo nenhum que ande num MBA. Olha..."
- "Trabalhas na Embaixada?"
... Oi? Mas que ligação é esta? Qual é o problema desta gaja? O contexto numa conversa é uma coisa que ela aparentemente não conhece, ou não pratica pelo menos. Já profundamente irritado, respondi-lhe:
- "Não, não trabalho na Embaixada, não ando nem conheço ninguém que ande num MBA. Olha, tenho de ir andando, boa sorte para o que quer que andas à procura, não te posso ajudar!"
- "Gostava tanto de passar a noite contigo!"
- "Ciao!", e virei-lhe as costas, "Fónix!".

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"White List Tokyo"

Mais um aniversário em Tóquio, outra realidade, outra época. Revivemos experiências dentro de ciclos que se repetem sem nos darmos conta. Reciclar é a palavra do dia.
Para quem passar por Tóquio, a festa este Sábado é lá em casa. Fica o convite... o Canuco e o Hulk'zinho vão!

domingo, 30 de agosto de 2009

"Oh porco!"

Se nos concentrarmos no significado da palavra porco, pensamos não vir a ter dificuldade em encontrar uma plataforma de entendimento entre povos. Na práctica não é bem assim. É certo que o porco está longe de ser um animal doméstico de passear à trela, mas também é verdade que se trata de um bicho dono de uma inteligência superior à de muitos dos nossos políticos. Se nos focarmos no sentido pejurativo da palavra porco, especialmente nos povos latinos, porco é significado de sujo e de um conjunto de outras palavras que usamos para ofender o próximo, como badalhoco, javardolas, tinhoso, mal cheiroso, etc. É preciso dizer que nestes povos é usual comer-se tudo do porco, até os tomatinhos marcham!
No Japão é diferente, além de não acharem as partes podengas do animal uma iguaría, o porco é associado a uma criatura meiga, cor-de-rosa e limpinha, que nem o nome "buta" que se pronuncia "puta" em Japonês aparenta desvanecer. Estou mesmo a ver um Japonês apertar as bocheichas de um barrasco enorme, gordo, sujo e cheio de pelos, dos que só servem para cobrir porcas, e dizer: " Oohhhh putinha linda... kutchi, kutchi...". Visto de fora um tipo sente-se tentado a avisar "Oh amigo, isso é um porco!", mas já percebi que não vale a pena, cada um com os seus fetiches!

Esta "porcaria" dá origem a um sem número de idiotices, como é exemplo um porco com cabelo de pessoa que saúda os transeuntes à entrada da loja com um "Oink, oink, irasshaimase!" sonoro e alegre de boas vindas aos mais recentes saldos... é estúpido! Igualmente estranho para um latino cujo porco só serve para comer, é ver uma banda para colocar à cintura e reduzir os excessos da gula, com um porquinho rosado fofinho na capa. A minha interpretação da corajosa associação é "Usa isto para emagrecer oh porco gordo!". Depois há t-shirts com porcos modernos e estilosos estampados e uma série de outras peças e acessórios de vestuário que só fazem sentido para alguém que adicione ao boneco um statement do género "Eu como bué porco, e tu?" ou "Porco à grelha sff!".
Para terminar, custa-me pensar que a estadia no Japão me vai roubar algo de genuíno e quase inscrito no nosso código genético, que é ofender a torto e a direito com nomes de animais as pessoas que se cruzam conosco. Temo que os mui típicos "Oh urso!", "Oh camelo!", "Oh boi!", "Oh lagarto!" e o mais famoso "Oh porco!" seja naturalmente substituído por um "Oh puta!", com risco de ouvir de volta algo como "E depois? Também pago impostos!".

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Canuco e o Hulk'zinho

Voltar ao Japão depois de duas semanas em Portugal faz-nos perceber que nem todos os países têm de ter crime organizado e criminosos no poder num caos generaliizado para as pessoas poderem continuar a "viver habitualmente", conforme defendia Salazar. O equivalente a toda a população portuguesa passa em determinadas estações de comboio em Tóquio, numa ordem quase chocante! Se fosse em Portugal, com a organização que nos é particular, o pessoal até se comia uns aos outros, e não estou a fazer alusões sexuais. Estes dez milhões não têm de levar o carro para todo o lado, até quase para ir à casa de banho como os nossos amigos Americanos, que só falta terem mictórios drive through, por aqui até o mais respeitável citadão, sócios-gerentes de empresas de sucesso andam de transportes públicos. Como estes cumprem os horários, quase ao segundo, podemos confiar neles para chegar no tempo mínimo a qualquer sítio, seja à empresa de manhã ou a um jantar com alguém ao final do dia, o que faz de Tóquio uma cidade de rotinas. Vamos começando assim a "conhecer" uma série de outras personagens que partilham conosco os mesmos horários, a mesma rotina, frequentando os mesmos comboios, à mesma hora, nas mesmas carruagens, todos os dias da semana. As mesmas caras, os mesmos gestos, "vivendo habitualmente".
Na minha rotina matinal estou a "conhecer" melhor dois personagens, de longe os mais marcantes...
O "Canuco da Toyoko Line", disputa comigo o mesmo lugar no comboio da Tokyu Toyoko-Line entre Nakameguro e Kikuna, que parte às 7h51. Este diabo de pequena estatura e eu, enorme para os standards do Japão, queremos ambos, entre muitos outros, sair em Kikuna o mais rápido possível para apanhar o comboio para Shin-Yokohama, uma ligação "muito à pele", o famoso "rés-vés Campo de Ourique", aqui parafraseado para a expressão Japonesa "rés-vés Kikuna". Desafiamo-nos com olhares cada vez que conseguimos o dito lugar, estou a ganhar 26-23, está renhido, mas o campeonato é longo, pode haver lesões ou contratações de Inverno... acho inclusivamente que o tipo comprou uns ténis novos para correr melhor para o nosso lugar "Nirvana"... tão pertinho da saída. Entretanto o tipo deve ter pensado que eu tinha mudado de lugar no comboio, não me viu durante as semanas de férias em Portugal, mas não deixou de partilhar comigo um esgar de ódio quando lhe "palmei" o lugar logo no primeiro dia, um gajo não pode facilitar! Li-lhe nos olhos um "Ahh, sacana!", que no Japão quer dizer WAhh, peixe!"... como o nosso fixe em Inglês... que consideração mais parva!
Depois há o "Hulk'zinho da Hibya Line". Tentem perceber no video o que ele está a fazer... e dou uma ajuda, não é a ler o jornal a que me refiro!

Pois, o "Hulk'zinho" faz todas as manhãs 15min de abdominais, para os dois lados não vá ficar assimétrico, na pontinha do banco, tudo isto na segunda carruagem da Hibya Line que chega a Nakameguro às 7h49. Sinistro no mínimo! Só uma dose cavalar de alheamento da realidade e uma total ausência de vergonha explicam este comportamento! Mas podia ser pior, imagino se decidisse... humm... assim... bom, adiante, isto não vai nos vai levar a lado nenhum. Mas uma coisa é verdade, o tipo manda um caparro! Por acaso até não, mas até podia mandar. Não é comum ver-se pessoal todo flácido com o six pack super desenvolvido. O "Hulk'zinho" é uma espécie de Super-Herói, com couraça tipo Batman mas com o músculo do bracito a cair para baixo... bahhh, que imagem, é melhor nem pensar nisso. É o que dá a rotina, um gajo fica maluco!Fica no entanto a promessa, na semana que vem vou dar um 5-0 ao "Canuco", ahhh leão!

domingo, 9 de agosto de 2009

Feliz Aniversário

O Japão é um país singular no que toca a cultura, com hábitos que vão para além dos nossos padrões, e valores como o respeito pelo próximo que não são comuns no Ocidente.
Mas o Japão é também um país com coisas muito parvas! Vamos levantar a ponta do véu e revelar um pouco do que se vê por cá nos mais variados sítios, em especial em Harajuku, entre Shibuya e Shinjuku, um circo vivo, tradução directa de living circus. Pode-se esperar tudo em Harajuku, tudo mesmo, mas no final a surpresa acaba sempre por superar a espectativa, é satisfação garantida. Foi aí que eu e a Alexandra decidimos passar o dia do nosso primeiro aniversário de casamento... apropriado!
Cada um em Harajuku é mais maluco que outro, dando largas à imaginação, não contrariando um elevado grau vontade de chocar... Ou só de expressão, é uma questão de semântica. Podia dissertar eternamente sobre cada uma das centenas de personagens que vimos, mas melhor que palavras, as imagens ilustram a "prenda" que demos a nós próprios neste dia.
A super-avozinha, versão MEDO!

Sim, é um tipo! Porque é que se veste assim... Pois, há coisas que é melhor nem saber. O que é que dá na cabeça de um gajo para se exibir assim em público? Estará à espera de algum reconhecimento especial? "Ya man, a tua panca é a maior... Yaaaa!". Entretanto havia mais uns quantos amigos deste rapaz que também envergavam roupas no mínimo... hummmm... estranhas! Tentámos misturar-nos com a populaça, mas a receptividade foi limitada, estavamos muito certinhos. Conhecemos melhor estes Samurais que lembram tempos ancestrais, versão MEDO!
Cruzámo-nos também com esta sujeita que parecia estar cheia de comichões, mais grave que uma simples pulga atrás da orelha, um caso grave de urticária... ou pior, pancada. Medicação recomendada: Pancadol MEDO, 10mg... a caixa de 60, claro.

Mas ficámos a pensar, "Já vimos isto algures...", de alguma forma não parecia novo. Foi preciso recuar ao ano de 1976, ano em que estavam nos escaparates tipos com cabelos de desentope chaminés com pruridos em fase adiantada e tipas que davam gritinhos fingidos de prazer. Descubram as diferenças:

Para terminar o dia em beleza ouve-se de repente no meio da multidão: "Ouve lá, esta não é a noiva cadáver?"... e demos de caras com a dita noiva cadáver, a mesma do concerto do "Fat Baixinho"! Surreal, numa cidade com dez milhões de habitantes, começam-se a repetir caras, é a aldeia global. Bem, não é propriamente o tipo de "pessoa" que queira passar despercebida!

Ups, está ao contrário, isto pega-se! Enfim, feliz aniversário...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Mortinho por chegar a Tóquio

A lei de Murphy diz que quando alguma coisa pode correr mal, correrá mal de certeza.
Ora o nosso regresso a Tóquio com o galo Tonho, primo do Xico, foi seguido
pelo Demo com indisfarçada satisfação, isso mesmo, Satanás, Ele próprio! Começámos com problemas de bagagem no voo da Lufthansa operado pela TAP, em que uma mentecapta nos informou docilmente que os 40kg que o cartão Silver da Lufthansa dá direito, não serve para a TAP, como se o meu bilhete não fosse Lufthansa e a TAP não pertencesse à Star Alliance, e como se eu quisesse saber quem conduz o aparelho, até podia ser um code share com a Linhas Aérias do Menino Jesus, a LAMJ... absurdo! Em Portugal é ver quem rouba mais, "BPN? Nahh, eu roubo mais, esses são meninos, pfff! Para si são 750Eur de excesso de bagagem se faz favor... e é porque é para si!" Tivemos de recorrer a um amigo intemporal que nos ficou entre outras iguarias com 4kg de bacalhau especial asa branca e peso idêntico em vinho do bom e do melhor que nos preparávamos para apresentar à comunidade Japonesa. Quem perde é Portugal!

Já o Demo se igualmente ria do episódio, quando com um requinte de malvadez nos fez esperar 1h30 dentro do avião da TAP, imóvel na pista, por alegadamente estarem a carregar software num computador de navegação. Mas que gaita, se era uma actualização porque é que não fizeram isso antes? "Ah, é só carregar aqui uma actualizaçãozinha do Windows Vista, isto é rápido... só mais uma horinha ou duas!" Faz-me lembrar uma mensagem que me apareceu no outro dia quando transferia uns dados, como quem diz "Espera aí 46.320 dias e 19 horas!", porque não os minutos e os segundos também?

Lá partimos de Lisboa, mas mais se riu Lúcifer quando por via do atraso da TAP perdemos o voo para Tóquio em Frankfurt. Corremos a bom correr quais Obikuelos pálidos, e ainda vimos o avião na gate, mas só para lhe dizer adeus: "Ciao, boa viagem, depois liguem, thá?"... palhaços! Conseguimos um voo para o Japão por, imagine-se Amesterdão, e daí pela JAL para Tóquio, um voo que vai sair caríssimo à TAP! A incompetência a sair dos bolso dos contribuintes que indirectamente têm de pagar voos a todos aqueles que, como nós, perderam os voos de ligação. Mais uma vez quem perde é Portugal.
Chegámos por fim, mas mortos! Parafraseando "Os mortos na bebem!", imortal comentário da personagem alentejana Maria no filme "Mortinho por chegar a casa" de Carlos da Silva e George Sluizer, proponho para o guião desta espisódica intervenção de Belzebu a adaptação para "Os mortos na voam!"
Indiferentes a tudo isto, os primos Xicos e Tonho, felizes pela renião, contemplam da janela a cidade de Tóquio, chuvosa, e falam sobre banalidades... "Tens galado muito por estas bandas?"... "Ui, nem te passa! Tás a ver aquela lá em baixo?"... "Qual, a dos olhos em bico?"... (risos)... "Saíste-me cá um galinho da Índia!"... "Ai o meu canário"...

domingo, 5 de julho de 2009

Hotel Cápsula @ PT

O staff do Hotel Cápsula está durante as próximas duas semanas em Portugal a promover o mais recente hotel de Tóquio e a angariar novos hóspedes. Até breve...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

"You must cur inside"

Toda a gente já passou mal na vida pelo menos uma vez por causa do calor. Há pessoas que, como eu, não temem o calor, mas os seus efeitos. O facto de ser caucasiano de raça pura, o mesmo é dizer que se é pálido como os mortos, torna a relação com o Sol numa espécie de amor/ódio, especialmente quando se introduz o factor humidade. Tóquio no Verão é uma cidade insuportável, não fora o grau de desenvolvimento, poderia ser confundida com Luanda. A rainny season estendende-se até ao final de Julho, com calor crescente. Para agravar as coisas, toda a gente espera que um consultor que se encontra com o cliente em reuniões de alto nível ande não só devidamente "enfatado" como também bem "engravatado". Isto é muito complicado para um tipo que nem ao próprio casamento foi de gravata! Antes de chegar a qualquer reunião já um tipo vai banhado em suor. Quando ainda por cima as instalações dos clientes estão três graus acima do normal para poupar energia mais um gajo pinga, vendo o cliente saltar alegremente de nenúfar em nenúfar porque está super confortável de manguinhas curtas, sem gravata e sem casaco... a ira sobe e a temperatura sobe mais ainda!

Esta semana, que nem foi das mais quentes ou das mais húmidas, comecei com uma reunião com os meus clientes favoritos. Tudo bem, até estava frescote quando saí casa, mas quando cheguei a Shiodome, percebi que tinha tomado um duche a caminho sem ter reparado. Praguejei algo como "GAITA!", mas com mais cabelos. Como damage control decidi entrar, já nas instalações do cliente, numa casa de banho para, pelo menos, limpar o suor. Desapertei as calças e a camisa, desviei a gravata e pluf, a toalhita que o pessoal cá usa para se limpar caiu na sanita... Irrecuperável! "GAITA!" - outra vez - "... Ao menos havia papel higiénico." Ensopei uns quantos punhados de papel, que se desfizeram a seu bel prazer no corpinho sub-nutrido de gaijin. Pelo menos tinha eliminado o excesso de "água". Quando encontrei os meus coleguinha Japoneses perguntaram-me com grande lata: "Pedoro-san, feeling hot?", e eu repondo "Man, this is crazy!", e os tipos "You must cur inside"... e eu "Sorry?"... e um deles com um sorriso beatífico "Cuuuur, you know? Cuuur!". Oi? Que raios é cur? Teriam eles uma receita milagrosa? Mas fez-se luz... "Ahhhh, cool inside! Cool inside o c@r#!ho, f#d@-s&!", nem engolindo um lingote de gelo... arrefecer por dentro... são mais parvos! Os gajos obviamente que não suam como eu, são uns esqueletos, que eu saiba os ossos não suam! Resignado, encaminei-me para o vigésimo quinto piso, e cheguei provavelmente à sala de reunião mais quente do Mundo! A partir daí suei as minhas maldades todas. À frente de alguém que estava perfeitamente confortável com o "calorzinho", ouvi-me implorar pelo fim da sauna e pensa "Deixa lá o serviço, isto para ti é de borla, desde que eu possa ir para um lugar fresco!". A coisa arrastou-se, com os silêncios do costume, pensam bué estes tipos, até cheguei a tentar o "cur inside", mas qualquer coisa que me viesse à cabeça só me aquecia mais. Eventualmente acabou o sofrimento, nem sei com o que concordei, as minha notas da reunião estavam tão ensopadas como eu, mas estavam lá os meus coleguinhas para salvar o dia!

O melhor estava no entanto guardado para o fim. Saquei a gravata a caminho do metro e reparei que, estava tão louco com o calor a limpar-me na casa de banho antes da reunião, que não tinha abotoado a camisa nem fechado a braguilha... Priceless, uma reunião inteira com fatinho e gravata, com o ar das grandes ocasiões, mas todo descascado! Bem me parecia que de vez em quando me vinha uma aragem ao... à... humm, pois, isso, aí!

domingo, 21 de junho de 2009

Não há duas sem três

Costuma-se dizer que não há duas sem três. Fieis aos nossos costumes, abandonámos o projecto em Tóquio a dois, e abraçámos um projecto a três! Não nos referimos obviamente aos hóspedes do Hotel Cápsula, esses já ultrapassam a dezena até ao final do ano, trata-se sim do mais novo elemento do clã Alves Raio, um rebento ainda sem nome com apenas onze semanas.
Podiamos dizer aqui que esta foi uma questão devidamente ponderada e planeada para que os mais versados nas artes da organização dissessem "Muito bem, tudo bem planeadinho, assim é que é bonito!", mas a cruel verdade é que o dito rebento forçou a sua entrada nos anais dos estrangeiros nascidos em Tóquio e, com data anunciada para 10 de Janeiro de 2010, concorre já com um número ainda não apurado de fetos para o título de bebé do ano. Os incautos progenitores estão excitados com a notícia, e aguardam com alguma impaciência a próxima consulta dia 9 de Julho para ver se o projecto terá nome de macho ou de fêmea.
Na primeira visita ao médico em Tóquio, achámos ainda que o Dr. Sakamoto se tinha enganado e nos estava a mostrar um vídeo de outra grávida, mas constatei após alguns momentos que era mesmo o da Alexandra, além de mau feitio, tinha umas gadelhas enormes... mais tarde reparei que era um braço, mas tudo bem, podia perfeitamente já ter os braços cabeludos.

Em abono da verdade, dever-se-á dizer que nesta fase ainda não é parecido com nenhum dos dois... é bom é que não nos apareça à frente com os olhos em bico, para o bem de todos! Mas uma coisa é certa, quando estiver cá fora vai comecar logo a ajudar na lida do Hotel Cápsula... de pequenino é que se torce o pepino!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

FLASH NEWS: Hotel Cápsula Grand Opening

Já estamos no Hotel Cápsula! Que lugar magnífico, melhor só no mesmo edifício mais para cima, mas vendo bem as coisas, assim abana menos durante os tremores de terra... aliás, hoje de noite parece-me que senti um... mas também podiam ser gases!
Voltando ao hotel, nem precisávamos de tanto espaço, pelo menos só para dois... hummm... é para as visitas, pensavam que estava a lançar a escada para um rebento? Naaahhhh... temos o Xico, que de resto anda louco com a mudança, espreita as vizinhas Japonesas à noite e a cacareja desrespeitosamente ao vizinho Alemão, os síndromas do costume, o galo do tempo que queria ser cão de guarda!



Considerações àparte, se preterimos de um andar no topo do Atago Green Hills Forest Tower, foi para termos mais um quarto para os amigos. Vá toca a marcar a viagem. Em Agosto e Setembro o Hotel Cápsula já está em overbooking, mas de Outubro para a frente está livre e com preços bem abaixo da média para a zona e época do ano. Target price de Outono: uma garrafa de vinho tinto por visitante. Ah, grávidas "pagam" duas! :)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Os Alarves

Dizem que o tamanho não importa... e talvez não importe, embora me pareça que estas são normalmente desculpas de mau pagador, mas a quantidade importa certamente... não comecem já a divagar, estou a falar das quantidades nos supermercados como é obvio! É difícil perceber, ou tentar sequer, como se pode ir a um supermercado para comprar uma maçã, uma banana, dez cerejas ou quinze uvas, embaladas com pompa e circunstância, não se vá estragar a pele da preciosa peça única. Mais difícil é aceitar o preço destas doses individuais.
O exercício é simples; uma maçã custa em média 150 Yenes, que são 1,20 Euros! Já as dez cerejas custam em média 900 Yenes, que em Euros dá 7,14... 71 cêntimos a cereja? 142 paus? E eu que pensava que o crime organizado não tinha face no Japão, está em todo o lado! Bem, roubo é roubo, e vice-versa, mas já vimos uma melância à venda por 25.000 Yenes, quase 200 Euros... tudo bem, era quadrada, ou seja, podia-se empilhar no frigorifico e dava para umas boas oito talhadas, mas 200 Euros, FÓNIX!
A partir daqui tudo é passível de ser vendido à unidade, imaginem só o potencial de uma cabeça de alho... ou de uma romã! :D

Mas, já diz o nosso Povo, para grandes males, grandes remédios, e nós arranjámos um. Nome: CostCo, em Japonês, Kosotoko, um Whole Sale Americano, onde só se vendem cenas à grande! O nosso carrinho fala por si: 100.000 Yenes de compras, sim, mais de 800 Euros se considerarmos o aluguer do carro. Os Japoneses estavam loucos conosco, fomos a atracção de final de dia do CostCo, de certeza os gajos mais disparatados do mês, os alarves. Como exemplo podemos contar 100.000 guardanapos de papel entre muitas outras coisas que provavelmente darão para vender à porta dos supermerdados onde o pessoal vai comprar um guardanapinho para limpar o canto da boca... Parvos!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dia da Independência

Somos independentes! Não, não me enganei no feriado! Não falo da independência de Portugal, essa há muito que foi perdida novamente para os Espanhóis, tanto trabalhinho para nada... enfim, falo da nossa independência, da minha e da Alexandra. Num país onde comprar um veículo tem mais custos acrescidos que o Imposto Automóvel multiplicado de IVA e outras múltiplas tributações que precisávamos de um blog especial para o efeito (se o Sócrates se lembra disto), comprámos bicicletas. É verdade, mas não são umas gingas quaisquer, são umas mega-biclas... ok, iguais a tantas outras em Tóquio.
Mas não se deixem enganar pela aparente vulgaridade das nossas bicicletas, há uma coisa que as torna especiais, a cor! A minha é preta como o Alfa Romeo 159 que devolvi à Ericsson quando viémos para cá, a da Alexandra é cinzenta como o Peugeot 106 dela! Fora isso, pois, são bicicletas... ah, a minha também chia à bruta como o Alfa... que saudades de uma acelaradela! Bem temos sempre o Palácio Imperial... para pedalar!

... faz lembrar o Verano Azul, não é?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Fat Baixinho

Decidimo-nos por um fim-de-semana diferente, assim mais... diferente! Aproveitámos uma oportunidade única de nos misturarmos com a fauna local num evento de alucinação colectiva, o Big Beach Festival 09. Além de outros DJs de renome, o ponto alto era Fat Boy Slim, Fat Baixinho para os tugas do palito ao canto da boca, e Fatu Boi Surimu para os Japoneses... trata-se de um caso raro de multipla personalidade de um individuo que até deu show, mas já está a dever uns aninhos à cova.


Uma pincelada geral sobre o evento, antes das fotos do dia. Big Beach Festival. Lá big foi, montes de malta, na Zambujeira cá do sítio, a Hakkeijima do Mar! Festival também, a abrir, beach é que não, pá! Venderam-nos uma ideia de festa na praia, a molhar os pézinhos no mar, pela noite dentro, com o pessoal a dormir em sacos cama e a tocar jambés até o Sol raiar... não! Em vez disso tinhamos uma alcatifa verde a imitar relva, o mar... ainda bem que não estava acessível, era mais preto que petróleo, muito mau... aposto que os peixes que ali nadam têm pernas e braços, tal o grau de mutação, ainda nos nascia um bracinho novo! A idiotice maior foi o evento começar às dez da manhã e terminar às oito da noite, a verdadeira japonesada! Imaginem-se pela fresca, acabadinhos de acordar a bombar valentemente e abanar o esqueleto débil numa amalgama de gente louca ao som de música electrónica, a despachar J beer... bolas, está tudo doido?
Rendidos lá fomos, mas melhor que palavras, as imagens enquadram globalmente o que vimos...

"A noiva cadáver"... Outra "noiva cadáver"... tantas!
"O menino Tonecas"...
"A Minie"...
... e o gajo mais sinistro do dia, a personificação do emblemático Nakata que falava com os gatos no romance do escritor Japonês Haruki Murakami, "Kafka à beira mar"... o cabelo? Cera? Graxa? Cocó? Não sabemos, não perguntem... MEDOOOOOOO!
Mas o som estava fixe e, os Japoneses, para tipos certinhos, dão-lhe muito na pastilha e na coca, "LOUCURAAAA... LOUCURA CONTROLADAAAA!"

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Entalado

Já toda a gente ouvi falar na expressão "gato escondido com o rabo de fora", mas tenho a certeza que ninguém ouviu a expressão "Japonês entalado com a mão de fora"! Isso mesmo, mais uma saga no metro. Não sei se é de não usar transportes públicos em Portugal há algum tempo, mas isto por aqui tem-me dado para rir à séria, especialmente quando não é comigo! Ontem foi a vez de um tipo, um dos tais salary men, ficar entaladíssimo na porta do metro, com a mão! Humilhante, metade da patinha de dentro, metade de fora! É estranhíssimo ver um metro, uma caixa de metal enorme sem formas que possamos identificar como humanas, com uma mãozinha... Comecei logo a imaginar a carruagem dizer a quem passasse na plataforma "oh Senhole passageilo, bom dia, dê aí um passou bem!" ou "Vai uma mãozinha!".

Há fotos lindas de empregados de estações a empurrar pessoal para dentro dos metros, a ver se cabem mais sardinhas na lata, mas na verdade os tipos só tratam dos entalados, os que ficam presos com partes do corpo nas portas, os Martim Monizes de Tóquio. Mas podia ser pior (bem Português isto). Bem, a mão deve doer, mas não se deve comparar a um entalão de cauda ou de... até doi só de pensar, imaginem, de manhã cedo no metro... o entumescimento matinal é um assunto incontornável na realidade masculina... uuuiiiii... Mas lá foi o empregado da estação a correr, não sei de onde, nem o vi aparecer, desentalar a pobre mão sem corpo, com a rapidez e destreza de muitos desentalanços. Sem espinhas!
Dava jeito ter um gajo destes sempre à mão, com a quantidade de vezes que nos entalam, no emprego, em casa, no trânsito... olha, tinha-me dado jeito ontem à noite quando me entalaram com um relatório para hoje!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Cheira a "smell"

Há poucas coisas que me irritam... por acaso não, há muitas, mas há uma que me irrita solenemente, os cheiros! Quem me conhece sabe que eu sou um comichoso de primeira com os cheiros. Então vejam o que aconteceu...
Para começar a semana em grande, lembrei-me de ir cedinho, evitar suicídios vespertinos e despachar trabalho antes de chegarem os meus coleguinhas. Pensei, "Vou na primeira carruagem que a ligação com o comboio da JR é à pele e se for à frente consigo-me safar! FIXE!!! Sou o gajo mais esperto da Ásia, hihihi..." eu e os milhares de Japoneses que se lembraram do mesmo que eu, ignorando o resto das carruagens completamente vazias, preferindo esmagar-me entre o vidro do maquinista e a minha estupidez, é a paga por querer trabalhar demais! Não obstante, o que me deixou mesmo pior que estragado foi ter levado com o sovaco de um gajo perfeitamente encaixado no meu ombro durante um sem número de estações, como se fossem feitos um para o outro, sem sequer lhe poder socar as partes baixas por me encontrar manifestamente manieatado, nem lhe poder chamar alguma coisa que o ofendesse seriamente tal a pobreza do meu Japonês.
Concluindo, comecei a semana com o ombro a cheirar a sovaco... e o ombro tão perto do nariz... dramático... não é daquelas coisas que se ponham para trás das costas... sem parecer um aleijadinho... IRRITA-ME PÁ!!!

Chuva "molha parvos"

Para os que não conhecem, Kokyo, o Palácio Imperial em Tóquio marca o centro geométrico da cidade, onde era antigamente o Edo Castle entre os séculos XVII e XIX. O seu valor imobiliário é equivalente a todo o estado da California, impressionante! A prática de desporto nas suas imediações é especialmente luxuriante aos Domingos quando encerram o trânsito nas avenidas mais próximas.
Àparte desta informação, completamente desinteressante para o comum dos mortais, deixem-me partilhar o nosso episódio triste de Domingo. Impelidos por uma vontade anormal de exercitar os músculos, ressequidos pelo caos da metrópole, fomos fazer jogging à volta do dito Palácio. O imperador e respectiva família, embevecidos com a grandeza do nosso acto, decidiram contenplar o rat race com a encomenda de uma "chuvinha" tropical, mesmo a meio do nosso percurso. Não restava nada por molhar nestes corpinhos sub-nutridos... nada! E os gajos no conforto do Palácio certamente a rir, a adorar o espectáculo, que canalhice... nem uma toalhinha turca mandaram ao pessoal para secar as partes!
Mas cá se fazem, cá se pagam! Quando apanharmos a família Imperial a correr à volta do Hotel Cápsula, vão penar, ah, vão penar mesmo! É preciso é apanhá-los lá... parvos...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Ei-lo, o Hotel Cápsula!

Já temos casa, encontrámos o Hotel Cápsula!
Não o da foto acima, vejam mais abaixo! :) É o nosso primeiro bom negócio no Japão, espero que de muitos. Não é no último andar, ficamos a cerca de um terço da torre Atago Green Hills Forest Tower com 42 andares, um dos muitos arranha céus Mori Buildings. No topo temos um ginásio, uma piscina, um SPA e um bar, tudo com uma vista de Tóquio absurda, viva o luxo!
Atago Green Hills Forest Tower

Dois quartos e uma sala com vista para as avenidas de Hybia, 95.32m2 a um pulinho do Palácio Imperial e de Roppongi, de resto o mais parecido com o Bairro Alto que cá temos. Agora esperamos visitas, as portas estarão abertas como no nosso Palacete da Graça para festas e algaraviadas. Viva o Hotel Cápsula!

Entretanto, a Alexandra teve confirmada a entrada na Universidade de Tóquio, parece que temos o segundo negócio fechado com sucesso. Ainda não sei se usará as mesmas roupinhas que as estudantes Japonesas usam, ahhh colegiais...

Sete Vidas

Acordei excitado... com energia, entenda-se! Ia ter a primeira reunião de Management Team. Tudo corria bem até ao momento que um Salary Man anónimo decidiu acabar com a vida cedinho, pela fresca, saltando para uma das linhas de metro de ligação Tóquio-Yokohama, apinhada às 7h30. Razões? Desconhecidas e ignoradas por todos aqueles que, como eu, desesperavam por chegar a horas. Os altifalantes reportavam em Japonês o que concluí mais tarde tratar-se de Human Damage Delay, a terna sensibilidade Japonesa. Pensei na família do pobre diabo que terá de pagar uma indeminização ao Metro pelo disturbio causado, equivalente a vandalizar uma bomba de gasolina a caminho de um clássico da bola. Com a breca (é linda esta expressão), o homem matou-se, mas estavam todos preocupados com o relógio. Se fosse em Lisboa ainda se percebia, com a vaga de assaltos que por aí anda, um relógio pode esfumar-se em segundos, é melhor mantê-lo debaixo de olho! A cereja no topo do bolo foi ver um funcionário em cada estação que à saída pedia desculpas pessoalmente, com vénias exageradas, e dava aos restantes Salary Men preocupados com o roubo dos seus relógios justificações para estes entregarem aos seus chefes. Talvez seja prudente, não fosse algum outro destes anónimos no desespero do atraso imitar o primeiro. Conto o meu primeiro suicídio, quantas vidas me restaram? Ah, e claro, lá se foi a excitação...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Santa Península

"A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas"... ao fundo viam-se os presuntos e, mais perto, um copo de vinho tinto da Estremadura??? Bolas, era um bar Espanhol!!! Conformados avançámos por Ginza e, nem passados 50 metros, estava a prova que os Algarvios andam por todo o lado, ainda e sempre
a controlar as fronteiras: "Adega Portuguesa Vilamoura"; não entrámos! Uma única razão, temos a certeza que a nossa cataplana é melhor que a deles... humildes, como os Japoneses gostam!

sábado, 16 de maio de 2009

Extra-terrestres sim, mas legais, ok?

Já nos sentimos muitas vezes fora do nosso cantinho (a nossa expressão para o estrangeiro "confort zone" :P ), não raras vezes já nos mandaram para a nossa terra... ou mandámos nós, e algumas vezes até já nos sentimos extra-terrestres acabadinhos de chegar de Odivelas, mas nunca pensei que chegássemos ao ridículo de sendo "aliens" nos obrigassem a registar. Que diabos, venho ver as vistas! Imaginem a cena de Marcianos (tipo o José Cid) aterrarem em Viseu e ouvirem logo algo do tipo "ehh, Shenhoreee... chim, bochê aí com a cara berde e com ojólhos arregalados, tem de preencher o papel ajul e entregar ali ao meu colega... o que foi beber café... ele já bolta... mas tem de che legalijar, então!?". É assim aqui, chamam-se os bois pelos nomes! Ah carago... aliens dum cabrão!