Há coisas que se passam na nossa vida que não passam de sonhos, nunca as vivemos, mas acreditamos que passámos por elas. Há outras no entanto que passam dos sonhos à realidade, e quando finalmente acontecem, despertamos do aparente estado vegatativo... "Oi?
Estavamos no ano da graça de 2009, a Terra era habitada por seres estranhos e em Portugal reinava o outrora jovem político Sócrates. Em Hiro-o, Tóquio, um rapaz fala distraídamente ao telefone quando é interpelado por uma jovem Japonesa, igual a tantas outras. O rapaz diz-lhe desviando a cara do telefone "I'm on the phone!", ela queda-se, imóvel, esperando impaciente pelo final do telefonema. O rapaz é estrangeiro, perfeitamente integrado no ambiente da vibrante Tóquio e estuda com curiosidade a rapariga sem que ela note. O fim do telefonema precipita-se e enquanto desliga o telefone repara no ar de pânico da jovem. "Do you need help?", pergunta-lhe. Esta responde "Are you in a MBA?"... Oi?
Acordei! O rapaz sou eu, mas... que raio de desbloqueador de conversa! Ainda espantado com a pergunta respondi:
- "Não, não ando! Porquê?"
- "Ah, ando à procura de uma amiga que anda num MBA, e eu estou na feira do MBA..."
Aqui já a minha cabeça vagueava. A rapariga era realmente Japonesa. Baixinha, excessivamente magra, a atirar para o feio, com ar de quem precisava de um Total Make Over, e continuava a inquirir-me sobre... MBAs?
- "Pois, não, lamento!", respondi.
- "E não tens um amigo que esteja num MBA?"
Estava a começar a ficar ligeiramente irritado com o teor da conversa...
- "Não, não conheço ninguém que ande num MBA. Não te posso ajudar, portanto..."
Ignorando a minha tentativa de saída de cena, continuou...
- "Deve ser difícil, mas vou perguntar à mesma: posso dormir contigo esta noite?"
... Oi? Que diacho se passou entretanto? O que é que eu perdi entre a converseta dos MBAs e este convite descarado de cama? Devo ter feito uma cara extraordinária, gostava de me ter visto, mas mantendo o ar das grandes ocasiões respondi:
- "Eh pá, não vai dar, sou casado e sinceramente acho que esta conversa não faz sentido nenhum!"
- "Ah, és casado... e não tens mesmo nenhum amigo que ande num MBA?"
... Oi? Voltámos à cena dos MBAs?
- "Não, não tenho amigo nenhum que ande num MBA. Olha..."
- "Trabalhas na Embaixada?"
... Oi? Mas que ligação é esta? Qual é o problema desta gaja? O contexto numa conversa é uma coisa que ela aparentemente não conhece, ou não pratica pelo menos. Já profundamente irritado, respondi-lhe:
- "Não, não trabalho na Embaixada, não ando nem conheço ninguém que ande num MBA. Olha, tenho de ir andando, boa sorte para o que quer que andas à procura, não te posso ajudar!"
- "Gostava tanto de passar a noite contigo!"
- "Ciao!", e virei-lhe as costas, "Fónix!".