quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"Oh coisinha fofa!"

Este post versa sobre os cães minúsculos que os Japoneses ostentam como se fossem jóias, my precious...
Se os cães pequenos irritam muita gente, os cães a pilhas irritam muito mais. A falta de espaço, denominador comum numa cidade como Tóquio, leva as pessoas a fazer algumas coisas muito parvas. Tratar no entanto cães ridiculamente pequenos como bébés, quando estes se assemelham mais a ratos, é passar dos limites. Não raras vezes se vêm pessoas a passear os cães em carrinhos de bébé, com touquinhas na cabeça e babygrow Prada não lhes vá dar o frio. Qualquer tipo impelido pelo instinto paternal que espreite distraídamente para dentro do carrinho, manda imediatamente um salto, libertando um: "Fónix, aquele bébé tem focinho!". Dito isto, a coisa piora e toma contornos de esquizofrenia colectiva.
No outro dia, perto de Aoyama, passei por uma pastelaria com um cheirinho que me fez salivar à primeira inalação. Estavam a sair bolos! Entrei e comecei o processo de escolha do bolo mais brutal, o maior e com aspecto mais doce; difícil, eram todos igualmente apetitosos! De repente vejo um casalinho entrar com um carrinho de bébé e atirar lá para dentro um bolinho tipo Donut com recheio vindo da montra, que o bébé recebeu com um "AU, AU, AU!", abanando a cauda. Era um chihuahua! Em pânico, olhei com atenção à volta e estremeci com o letreiro por cima da menina do balcão... "Dog Patisserie"... "huuuuuuh", e saí a correr, estava prestes a comer um biscoito de cão!
O que dizer então de empresas que organizam a vida social dos cachorros? Slogan: "Save the dog", brilhante! A aparente especialidade destas empresas é tratar das festinhas da socialite canina, o jet set do reino animal. Já estou a ver um cocktail com sujeitos peludos, de orelhas grandes e olhar superior. Um comenta "Já experimentou o ossinho de codorniz? Está divinal!", ao que a cadelinha responde "Com efeito, já escavei inclusivamente um buraquito ali ao pé da piscina com alguns para mais logo!"... (risos), "Sua cachorra!".
Depois das descrições anteriores, encontrar flores em forma de caniche ou semelhante é o mesmo que comparar o fogo de artifício de final de ano da Madeira com um foguete de feira, ou para os que andaram no Técnico e se lembram destas coisas, comparar o dito fogo com os foguetes do Carvalhosa... mítico!
Há no entanto episódios que nos surpreendem sempre, mesmo quando pensamos que já vimos tudo. Atentai à figura do motoqueiro, um macho viril, olhar de poucos amigos, barba por fazer e um intenso cheiro a... estrada! Toda esta figura de proeminente rebelde culmina no porte de uma malita ao ombro com um canito lá dentro, que nem sequer trabalha a pilhas convencionais, leva daquelas pilhas de relógio de pulso, das mais pequenas, tal não é o tamanho da criatura... ah, e a cereja no topo do bolo é o capacete pequenino Harley Davidson do cão, a condizer com o do dono, tal Yin e Yen, Bela e Monstro ou Modelo e Detective... medo, mas inseparáveis! Está claro, depois desta descrição, que eu adoro estes cãezinhos. Quando vejo um faço-lhes sempre "Oh coisinha fofa!"... toma!


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sumo

Fomos ao Tokyo Kokugikan ver o famoso torneio de Sumo de Setembro. Para os fans de Sumo como eu, não é estranho venerar criaturas cujo maior atributo aparente é ser gordo, usar cuecas de fio dental tamanho XXXXXXXXL e armar confusão com os outros gordos que se lhes cruzam pelo caminho.
Também não é estranha para os fans toda a cerimónia da pancadaria. Desafiam-se como gatos ciosos com as suas cuecas preferidas, olhando-se, agachando-se, ganhando confiança com os vivas dos magricelas da audiência que os encorajam a sovar o outro gordo: "Dá-lhe, que esse gordo merece!"... "Tu não és gordo, és forte... dá-lheeeee!", e avançam destemidos contra a banha um do outro, agarrando-se, puxando-se e escorregando nos suores mútuos sem qualquer pudor. No final pretendem uma única coisa, que o outro gordo abandone o círculo de luta até que venha o próximo casalinho de gordos para dançar novamente a lambada.

Se falassem antes e durante o combate, imagino que o diálogo fosse algo do género:
- Oh gorda, estás toda boa (risos)... para não dizer o contrário!
- "So desu ne", ao menos não ando com cuecas com o número abaixo para parecer mais magra! Badalhoca! Oferecida! Vê-se o cú todo...
- Olha a ordinária! Deves pensar que são todas como tu!
- Vou-te arrancar esse piriquilho fatela que tens nessa cabeça de banha e ensinar-te boas maneiras, sua cabra! - responde movimentando-se com "agilidade" em direção ao pote do sal no canto do recinto de luta.
- Uuuuu - ouve-se com a investida.
- Eh pá, deslarga-me! Cheiras mal... bahh, tás toda suada, que nojo!
- Aaaaiii, larga-me as cuecas... porca!
- Eh pá, tu levas uma chapada... toma! Abanaste toda (risos), e ainda não paraste, pote de banha...
- Huuu... sai daqui!
- Aiiiiiiii...
E lá se precipita um deles para o chão. É assim que eles se divertem, os gorduchos do Japão... e nós aplaudimos.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"By the book"

Se há uma coisa que se faz bem no Japão é cumprir regras, tudo é feito by the book. Excepção feita quando bebem uns copos, mas ainda assim, há regras que ditam as regras para beber copos.
As regras são portanto para cumprir, mesmo que não façam sentido nenhum. Vou reportar um caso marcante, o dos maquinistas do metro e comboio.

Estes digníssimos cidadãos, cujo trabalho nem sempre é valorizado como devia ser, além de levarem milhões aos seus destinos, coitados, também falam sozinhos durante toda a viagem, aparentemente dizendo que se certificaram a cada momento que tudo está a funcionar como deve ser. Manómetros, niveis, ar dos pneus (ok, não se aplica aos comboios) e espante-se, informando que vão... em frente, como se houvesse outra hipótese num veículo que circula sobre carris. Extraordinária capacidade de orientação, "Aqui neste bocadinho vou em frente!", excelente! Inovador seria "Neste troço de linha onde só posso seguir em frente, vou virar aqui à direita para comer uma bifana!". Mas todos fazem o mesmo, é inútil bater no vidro para os distrair, os tipos entram no modo de rotina e não param, é assim que ditam as regras. Não consigo imaginar 30 anos com um trabalho assim... nem um dia sequer!
Esta semana descobri no entanto algo de novo, um maquinista fêmea! Também informava periodicamente que ia seguir na única direcção possível, mas concentremo-nos no género do maquinista. Uma mulher que conduz um comboio com quinze carruagens, um considerável número de toneladas de aço com mais de um milhar de pessoas que se amontoam nas hora de ponta na Yamanote-sen, que é provavelmente a linha mais movimentada de Tóquio, tem de ser um "ganda macho". Em Portugal há mulheres taxistas, que são bastante machitas; mandam uns palavrões aos outros condutores e deixam crescer orgulhosamente a unha do dedo mindinho. Há também algumas condutoras de TIR; são altos machos, não usam cremes hidratantes, fazem o bigode com lânima, cospem no chão e ainda coçam o suposto tomatinho, ossos do ofício. Esta mocita do comboio nem imagino como será, um diabo à solta! Vejo-a fácilmente a abrir a janela da cabine e mandar piropos às gajas da plataforma "Oh boa! Fazia-te um vestidinho de cuspo...", dentro das regras, claro!

domingo, 4 de outubro de 2009

"Papá, tenho sono!"

Os Japoneses dormem à séria! Com esta frase forte começa um post que fala de sono, de descanso e de coisas parvas.
Há uma característica nos Japoneses que continua a intrigar os comuns mortais, aqueles que depois de acordar continuam... acordados! Toda a gente conhece o prazer de uma sesta, especialmente ao Domingo à tarde, quando toda a gente se encontra deprimida com o começo da semana que se avizinha. Os Espanhóis e afilhados hispânicos têm a siesta, os Japoneses têm simplesmente um botão para desligar. Aqueles que já desejaram desligar os putos, a ver se descansam um bocadinho, não estes, mas os pais, encontrariam no Japão a solução para todos os males. Infância, adolescência, maioridade e senioridade, todos à distancia de botão ON/OFF. Passo a explicar: em qualquer local, a qualquer hora, em qualquer posição, se há um minuto para dormir, "Bora lá!", imediatamente o pessoal fecha os olhos e já está... puff, desligado! No metro, numa sala de espera, no escritório, nos copos, deitado, de pé, literalmente de qualquer maneira.

Claro que esta feature opcional vem com um preço. Se por um lado o power nap retempera, um tipo que dorme nestas condições faz e só pode fazer figuras do pior. Entre as célebres cabeçadas, os chamados golos na pequena área, até à total perda de equilíbrio, vale tudo enquanto o corpo e a mente dormitam. No metro, encostar a cabecinha ao ombro do parceiro com dois metros, que também dorme é uma cena espectacular, tipo "Papá, tenho sono!"... "Anda cá! Agora deixa-me dormir também... chato pá!". Há alguns casos mais graves no entanto, quando a mistura de alcoól, cansaço e talvez, porque não, a vontade de "dar em cima da vizinha de banco" se juntam num cocktail explosivo. Ok, um gajo tombado pelo Deus Baco até pode ser divertido, mas quando os outros têm de se desviar da nossa rota... da nossa não, que eu não me meto nessas coisas, da rota deles, desses malandros que se metem nos copos, aí as coisas mudam de figura. Invadimos o espaço do vizinho, impondo de uma forma aparentemente inocente a nossa presença, tipo "Cu-cu!".
A coisa pode no entanto tomar proporções a atirar para o macabro. Dar com um tipo deitado no passeio de uma das ruas mais movimentadas de Tóquio, à noite, com óculos escuros, a segurar (ou segurado) a uma ficha eléctrica, bate aos pontos os prémios "priceless" Mastercard. Então vejamos:
- Fatinho Cali Klain: 19.000 Yenes
- Camisa Lã Costas: 11.000 Yenes
- Óculos Rai Banho: 10.000 Yenes
- 4 cervejas: 3.500 Yenes
- Dormir numa poça de mijo no passeio de uma rua de bares em Tóquio com óculos de Sol e um sorriso beatífico: PRICELESS!

Mas no meio de tantos milhões é possivel que haja pessoas que dormem normalmente, sem cabeçadas. Enfim, com esta converseta toda, já me está a dar o sono... ups... GOLO!!!