domingo, 28 de março de 2010

... há empregos do Kaneko!

Uma particularidade do Japão é o número absurdo de pessoas necessárias para fazer o trabalho de um. Podíamos dizer que em Portugal é a mesma coisa, um gajo cava, os outros fiscalizam e opinam.Aqui é diferente, fazem todos o mesmo. É como ter dez mãos a atarrachar uma lâmpada, cinquenta dedos cuidadosamente colocados na superfície de vidro para confirmar que não há enganos ou sobressaltos, tudo pelo seguro.
O rapazinho desta fotografia esteve mais de uma semana, o dia inteiro, a guardar uma pertança falha de segurança na estação de Shin-Yokohama do Shinkansen, o famoso "comboio bala". Ao que parece a porta de segurança avariou. Em vez de colocarem um letreiro, colocaram uma pessoa. Há tantas... mas é o mesmo em todo o lado. Nas obras de rua, dá ideia que são mais os tipos a sinalizar a obra, a dizer para os transeuntes se desviarem do burado, devidamente sinalizado e vedado, que propriamente os que estão a trabalhar na dita obra.
E o que dizer da fila de "desentaladores" da estação de Nakameguro? Quando há uma pessoa presa em mais que uma porta, cada um corre para o seu e resolvem a coisa em menos de cinco segundos, sabem perfeitamente o que fazer e da forma mais eficiente. Se fosse em Portugal havia só um, gordo, de bigode, com a farda demasiado pequena para o seu porte, que se alguém ficasse preso na porta do comboio, avançaria devagarinho com o cigarro no canto da boca e rebentava a porta e a pessoa entalada com um pé de cabra. Se houvesse mais do que um, "calma, este menino dá para todos... qual é a pressa, querem ir trabalhar?" Com tanta redundância, é claro que há malta que aproveita para não fazer nada. É o caso do meu colega Kaneko, o gajo aparece nas reuniões e dorme que nem um leão, parece que está sempre com os copos... também com um nome destes... mas no Japão há empregos do Kaneko!

domingo, 7 de março de 2010

ERRO

Normalmente não pensamos duas vezes em fazer aquilo que nos dá mais prazer, muito raras são as vezes em que pensamos em possíveis efeitos secundários. Depois sim, vêm os ditos efeitos e desejamos ter sido menos impulsivos, ter pelo menos pensado nas consequências das nossas acções. O misto de prazer e culpa depois de comer uma tablete de Toblerone de 500 gramas é um exemplo, mas há mais; sair à noite e beber uns copos como se não houvesse amanhã e não pensar na ressaca do dia(s) seguinte(s), marcar umas férias de sonho na Índia sem pensar nos "desarranjos" intestinais durante as mesmas, convidar uma dezena de machos virís para ver a bola em nossa casa sem pensar que a esposa ou namorada nos vai enfernizar durante uma(s) década(s)... ou fazer a inscrição na maratona de Tóquio sem pensar no sofrimento atroz que vamos sentir durante e depois da prova. Esta, eu pensava que não caía, mas caí. "Eh pá, bora aí inscrever na maratona"... "OK"... ERRO!!!Basta pensar um bocadinho para nos apercebermos que a maratona não é uma coisa para meninos. Reza a lenda que o primeiro maratonista, o mensageiro Grego Pheidippides, que deu origem à prova ao correr os 42,195km até Atenas para dar a notícia que os Gregos tinha ganho a batalha de Maratona, acabou por morrer momentos depois de terminar a distância. Obviamente que isto não deixa antever nada de bom. Onde é que se perdeu esta informação de extrema relevância? Outro facto com o qual me deparei ao começar a procurar informação sobre treino para a maratona foi o sem número de advertências do género: "Se vai passar por mudanças intensas na sua vida, por exemplo, mudança de casa, de emprego, casar, ter um bebé, adie os planos da matartona por um ano.". ERRO!!!
Bom, O mal estava feito, só me competia concretizar aquilo a que me tinha proposto, acabar os 42km, o tempo era o que menos interessava. Dois meses de treino semi-intenso revelaram-se insuficientes. A prova começou com chuva intensa, mas mais intenso foi o frio. Até nevou! Ora, para um bom menino da cidade, treinos na rua só com bom tempo. "Lamentamos imenso", disseram os senhores da organização, "hoje neva!". O maranhal de gente era tão grande, 31.999 loucos como eu, que demorámos dez minutos para passar pela linha de partida. Quando a passámos pensei, podia acabar já agora... mas não. Posso apenas gabar-me dos primeiros 30km, que consegui terminar em menos de três horas, já o vencedor estava com o banho tomado e com o ar das grandes ocasiões. Demorei um pouco menos de duas horas para terminar os restantes 12km, paguei o preço dos incautos. Que raios leva um tipo a rebentar-se todo só para acabar uma maratona? Qual é o objectivo? "Fazes 42km? Grande coisa, a minha avó faz 43km! Nha, nha, nha, nha..." Este tipo de coisas passava-me pela cabeça quando o corpo já dizia: "Masss que disssparaaateee...", à moda do Manuel Maria Carrilho.
Uma coisa é certa, depois de penar a bom penar, acabei a minha primeira maratona, e ainda não percebi como é que já estou "louco" para fazer menos de quatro horas para o ano que vem... muito provavelmente outro grande ERRO!!!