domingo, 30 de agosto de 2009

"Oh porco!"

Se nos concentrarmos no significado da palavra porco, pensamos não vir a ter dificuldade em encontrar uma plataforma de entendimento entre povos. Na práctica não é bem assim. É certo que o porco está longe de ser um animal doméstico de passear à trela, mas também é verdade que se trata de um bicho dono de uma inteligência superior à de muitos dos nossos políticos. Se nos focarmos no sentido pejurativo da palavra porco, especialmente nos povos latinos, porco é significado de sujo e de um conjunto de outras palavras que usamos para ofender o próximo, como badalhoco, javardolas, tinhoso, mal cheiroso, etc. É preciso dizer que nestes povos é usual comer-se tudo do porco, até os tomatinhos marcham!
No Japão é diferente, além de não acharem as partes podengas do animal uma iguaría, o porco é associado a uma criatura meiga, cor-de-rosa e limpinha, que nem o nome "buta" que se pronuncia "puta" em Japonês aparenta desvanecer. Estou mesmo a ver um Japonês apertar as bocheichas de um barrasco enorme, gordo, sujo e cheio de pelos, dos que só servem para cobrir porcas, e dizer: " Oohhhh putinha linda... kutchi, kutchi...". Visto de fora um tipo sente-se tentado a avisar "Oh amigo, isso é um porco!", mas já percebi que não vale a pena, cada um com os seus fetiches!

Esta "porcaria" dá origem a um sem número de idiotices, como é exemplo um porco com cabelo de pessoa que saúda os transeuntes à entrada da loja com um "Oink, oink, irasshaimase!" sonoro e alegre de boas vindas aos mais recentes saldos... é estúpido! Igualmente estranho para um latino cujo porco só serve para comer, é ver uma banda para colocar à cintura e reduzir os excessos da gula, com um porquinho rosado fofinho na capa. A minha interpretação da corajosa associação é "Usa isto para emagrecer oh porco gordo!". Depois há t-shirts com porcos modernos e estilosos estampados e uma série de outras peças e acessórios de vestuário que só fazem sentido para alguém que adicione ao boneco um statement do género "Eu como bué porco, e tu?" ou "Porco à grelha sff!".
Para terminar, custa-me pensar que a estadia no Japão me vai roubar algo de genuíno e quase inscrito no nosso código genético, que é ofender a torto e a direito com nomes de animais as pessoas que se cruzam conosco. Temo que os mui típicos "Oh urso!", "Oh camelo!", "Oh boi!", "Oh lagarto!" e o mais famoso "Oh porco!" seja naturalmente substituído por um "Oh puta!", com risco de ouvir de volta algo como "E depois? Também pago impostos!".

Sem comentários:

Enviar um comentário