sexta-feira, 3 de julho de 2009

"You must cur inside"

Toda a gente já passou mal na vida pelo menos uma vez por causa do calor. Há pessoas que, como eu, não temem o calor, mas os seus efeitos. O facto de ser caucasiano de raça pura, o mesmo é dizer que se é pálido como os mortos, torna a relação com o Sol numa espécie de amor/ódio, especialmente quando se introduz o factor humidade. Tóquio no Verão é uma cidade insuportável, não fora o grau de desenvolvimento, poderia ser confundida com Luanda. A rainny season estendende-se até ao final de Julho, com calor crescente. Para agravar as coisas, toda a gente espera que um consultor que se encontra com o cliente em reuniões de alto nível ande não só devidamente "enfatado" como também bem "engravatado". Isto é muito complicado para um tipo que nem ao próprio casamento foi de gravata! Antes de chegar a qualquer reunião já um tipo vai banhado em suor. Quando ainda por cima as instalações dos clientes estão três graus acima do normal para poupar energia mais um gajo pinga, vendo o cliente saltar alegremente de nenúfar em nenúfar porque está super confortável de manguinhas curtas, sem gravata e sem casaco... a ira sobe e a temperatura sobe mais ainda!

Esta semana, que nem foi das mais quentes ou das mais húmidas, comecei com uma reunião com os meus clientes favoritos. Tudo bem, até estava frescote quando saí casa, mas quando cheguei a Shiodome, percebi que tinha tomado um duche a caminho sem ter reparado. Praguejei algo como "GAITA!", mas com mais cabelos. Como damage control decidi entrar, já nas instalações do cliente, numa casa de banho para, pelo menos, limpar o suor. Desapertei as calças e a camisa, desviei a gravata e pluf, a toalhita que o pessoal cá usa para se limpar caiu na sanita... Irrecuperável! "GAITA!" - outra vez - "... Ao menos havia papel higiénico." Ensopei uns quantos punhados de papel, que se desfizeram a seu bel prazer no corpinho sub-nutrido de gaijin. Pelo menos tinha eliminado o excesso de "água". Quando encontrei os meus coleguinha Japoneses perguntaram-me com grande lata: "Pedoro-san, feeling hot?", e eu repondo "Man, this is crazy!", e os tipos "You must cur inside"... e eu "Sorry?"... e um deles com um sorriso beatífico "Cuuuur, you know? Cuuur!". Oi? Que raios é cur? Teriam eles uma receita milagrosa? Mas fez-se luz... "Ahhhh, cool inside! Cool inside o c@r#!ho, f#d@-s&!", nem engolindo um lingote de gelo... arrefecer por dentro... são mais parvos! Os gajos obviamente que não suam como eu, são uns esqueletos, que eu saiba os ossos não suam! Resignado, encaminei-me para o vigésimo quinto piso, e cheguei provavelmente à sala de reunião mais quente do Mundo! A partir daí suei as minhas maldades todas. À frente de alguém que estava perfeitamente confortável com o "calorzinho", ouvi-me implorar pelo fim da sauna e pensa "Deixa lá o serviço, isto para ti é de borla, desde que eu possa ir para um lugar fresco!". A coisa arrastou-se, com os silêncios do costume, pensam bué estes tipos, até cheguei a tentar o "cur inside", mas qualquer coisa que me viesse à cabeça só me aquecia mais. Eventualmente acabou o sofrimento, nem sei com o que concordei, as minha notas da reunião estavam tão ensopadas como eu, mas estavam lá os meus coleguinhas para salvar o dia!

O melhor estava no entanto guardado para o fim. Saquei a gravata a caminho do metro e reparei que, estava tão louco com o calor a limpar-me na casa de banho antes da reunião, que não tinha abotoado a camisa nem fechado a braguilha... Priceless, uma reunião inteira com fatinho e gravata, com o ar das grandes ocasiões, mas todo descascado! Bem me parecia que de vez em quando me vinha uma aragem ao... à... humm, pois, isso, aí!

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